Dez voltas ao sol no caminho das cores: Irmandades em movimento

Antes de tudo, vieram os sonhos. Às vezes segredo, às vezes explosão. Às vezes sussurro, às vezes grito. Entre o medo de enfrentar o mundo a sós e o aconchego de saber que existe um nós, foi germinando o desejo que sempre nos habitou. Somos o eco de vozes silenciadas, o destino de anseios guardados no peito. Utopias, porém reais. Somos partilha e transformação. Somos coletivo e outridade, como tantas irmandades que nos precedem.
Dos cantos da capoeira, a história nos diz que Aidê era uma negra africana, dona de magia no cantar. O sinhozinho lhe ofereceu falsa “liberdade”, mas, em troca, ela teria que se casar. Só que Aidê não negocia seus valores. E foi no Quilombo de Camugerê que encontrou a verdadeira liberdade. Aidê lutou para estar com as suas. Aidê se refez em irmandade.
Há dez voltas do sol, o Morro do Quilombo presenciava o nascimento de nosso bloco. Foram Icamiabas, Poetisas sáficas, guerreiras Agojie, Mães de Maio, Didá e tantas outras irmandades que nos mostraram o caminho: Se organizar coletivamente. E, assim, surgiu o Cores de Aidê.
Entre tambores e afetos, luta e poesia, ocupamos as ruas e casas. Cada carnaval é um rito, um grito, um abraço. Com o tempo, o bloco ganhou um corpo próprio. Ressignificou o carnaval para muitas pessoas, gerou parcerias, amores e, por que não? uma família. Somos agora nossa própria ilha, território onde aportamos, ancoramos e crescemos. Uma ilha cercada por águas benditas, onde nos banhamos de coragem e aprendemos, em irmandade, que arte é ferramenta de ocupação e carnaval é espaço de cura e abrigo, resistência, força e Axé. Chuá! Chuá! Chuá! É assim que se transborda em Aidê.
Somos Aidê, na transformação que cada carnaval nos entrega. Aidê que nos mostra que lugar de mulher é onde ela quiser. Que dança para o mar de esperança e fé. Que encontra nas folhas a força da cura, nos lembra que somos forjadas no fogo e brilhamos com Oxum. Que desce a ladeira com Navalha e seu Zé e depois brinca e ri com os Ibejis na festa de Erê.
Aquela que não nos deixa andar só.
E, pra celebrar essa existência, nos damos as mãos em roda, “lá embaixo”, para receber da terra sua energia vital, depois erguemos os braços ao céu, e gritamos em uma só voz: AIDÊ!!!
Pela certeza de que a irmandade nos move, seguimos no caminho das cores: Dez voltas ao sol. Dez voltas de Aidê, irmandades em movimento!
