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Carnaval 2024: figurinos retratam símbolos, contam histórias e despertam sentimentos

Imagens traduzidas em vestidos, chapéus, calças, acessórios – costuras que contam histórias. A construção dos figurinos para o Carnaval 2024 do Bloco Cores de Aidê passou por muita pesquisa e trabalho colaborativo. O resultado foi uma festa de cor e caracterização, profundidade e significado.

Exu do Fogo – ala Abertura de Caminhos (dança)

A responsável por coordenar todos esses processos foi Luana Silva, musicista do Bloco, que atua profissionalmente como analista de Marketing, com especialização em Design de Moda e Comportamento. Luana conta que consultou artigos acadêmicos, mitologia dos orixás, e aprendizados do terreiro, para que o visual fosse traduzido em conhecimento, que ao mesmo tempo dialogasse com o enredo e a música do Carnaval 2024.

“A preocupação foi como levar esse tema para a rua de forma que as pessoas se sensibilizassem, se apaixonassem com o que fossem ver, mas ao mesmo tempo tivessem um respeito com o que estavam assistindo”, explica Luana. 

O grupo responsável pelos figurinos foi de quatro integrantes do Bloco: Luana, Flávia Oliveira, Daiene de Boni e Bianca Oliveira. A intenção foi desenvolver cada etapa primeiro em um grupo reduzido, e com a supervisão e o olhar cuidadoso das regentes e coordenadoras do Bloco, em especial a idealizadora do Cores de Aidê, Sarah Massignan. No entanto, ao longo do processo, foram muitos os mutirões, e no início, nas primeiras etapas, o grupo foi maior, com a presença de outras membras do Bloco para a elaboração do enredo. 

Comissão de Figurinos do Carnaval 2024. Da esquerda para a direita: Luana Silva, Bianca Oliveira, Daiene de Boni e Flávia Oliveira. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Durante a construção do enredo foram surgindo as primeiras ideias, já dentro das pesquisas iniciais, e fomos aos poucos aprofundando, juntando os elementos”, conta Luana. A próxima etapa foi a busca por imagens, um momento de construção coletiva, em que todas as propostas eram abertas. “Pedi para quem quisesse contribuir com os figurinos que colocasse suas ideias, suas inspirações. Junto com isso vieram as alas sugeridas pela Sarah, e pelas regentes. Fomos compilando com os temas, junto com todas as referências recebidas, e a temática do enredo. Depois veio a música, e por fim os croquis”, salienta, com muita pesquisa envolvida em cada momento. 

Além dos artigos acadêmicos e das conversas, Luana conta que a porta-estandarte do Bloco, Ekedi Eli, contribuiu muito com várias das escolhas, por seu conhecimento das religiões de matriz africana. “O tema é diferente, delicado aos olhos de algumas pessoas. Já para outras, é do dia a dia. Usei todas as contribuições que recebi, e vindo desde o enredo, acessando tudo o que foi compartilhado, foi um trabalho de encaixar as ideias e construir as narrativas”, detalha.

Ekedi Eli, porta-estandarte do Cores de Aidê. (Foto: Toia Oliveira)

Dentre as inspirações para os figurinos estão orixás como Iemanjá, Omolu e Iansã, além de temas da mitologia Iorubá, imagens dos malandros, pombagiras, ciganas, entre outros. Com essas imagens, a intenção foi despertar sentimentos como a curiosidade e a admiração. “Queríamos que o público olhasse os figurinos e se identificasse com os elementos dos orixás, do samba, da capoeira. Foi desafiador, mas muito recompensador também notar os muitos olhares, ver as pessoas participando que também se arrumaram para estarem próximas à gente”, relata.

Flávia Oliveira acrescenta que esteve sempre presente a proposta de representar a ancestralidade afro e o misticismo. “Buscamos pesquisar rituais, danças, fábulas, contos e simbologia dos objetos, para derrubar o véu entre a realidade das ruas e o sobrenatural. Percebemos desde a construção do tema, que ficou muito latente a força que trazia as figuras centrais da rua, seus guardiões, como ‘Maria Navalha’ e ‘Zé Pilintra’. Nós também [do Bloco Cores de Aidê] somos o povo das ruas, os nossos tambores ecoam nas ruas, é um tema que nos representa, como bloco de rua, são os instrumentos que, com sua magia, fascinam e curam”, reforça. Flávia trabalha com a criação de acessórios de moda, e contribuiu também com a materialização dos adereços para as alas.

Regentes Dandara Manoela e Sarah Massignan (idealizadora). (Foto: Toia Oliveira)
Regentes Luiza Hipólito, Nattana Marques, Camila Souza e Aline Martins

Daiene de Boni, bióloga e artesã, além de dançarina do Bloco, também contribuiu na criação de adereços e acredita no poder dos figurinos para marcar o cortejo de Carnaval na memória de quem foi assistir. “Foi muito amor, cuidado e respeito colocado nesse processo todo. Eu me senti extremamente orgulhosa de tudo que fizemos, e também de como a maioria do grupo se sentiu uma porta-voz do povo da rua. Tamanho amor transparece nas vestimentas e acessórios, para que elas tivessem memória e gerassem lembranças em cada pessoa que vestiu e em cada pessoa que vislumbrou nosso cortejo nas ruas de Floripa”, complementa. 

Calças e saias também receberam grafismos e artes de Cris Neres, com estampa de Carol Beltran, artistas que também são integrantes do Bloco. (Foto: Acervo Pessoal)

Para Daiene, o trabalho em equipe fez tudo valer a pena. “Sentir que estávamos fazendo tudo junto, como um corpo só, fez com que nos tornássemos mães de cada figurino que nasceu. Um dos legados desse carnaval foi que, através dos figurinos, as pessoas puderam perceber de forma responsável, leve, alegre, verdadeira o significado do povo da rua, da malandragem. Ficou latente a importância do posicionamento do grupo, de manter o respeito, de levar alegria, de educar, de conscientizar as pessoas”.

Calça criada para ala da Marcação leva elementos de Cris Neres e pintura de Flavia Oliveira. (Foto: Acervo Pessoal)

Bianca Oliveira ressalta a importância do trabalho colaborativo em um Bloco de cerca de 200 pessoas. “Temos no Bloco pessoas com mil talentos pessoais e profissionais. Muitas dessas pessoas descobriram habilidades novas nesse processo de trabalho em mutirão, de colaboração. Para além disso, a criação dos figurinos também gerou renda e trabalho para mulheres costureiras, sem as quais não seria possível chegar ao resultado que chegamos”, relata. Este é o terceiro Carnaval no qual Bianca trabalha com os figurinos do Bloco, algo que já virou rotina. “Mas o Carnaval de 2024 para mim ficou muito marcado por um trabalho focado, potente, com um grupo multitalentoso e que se complementa. O resultado foi essa criatividade toda que vimos florescer na rua”.

Passado o Carnaval, os figurinos serão utilizados durante todo o ano, nas apresentações do Bloco Cores de Aidê. “Os figurinos agora são do acervo do Bloco, foram pensados para poder variar, misturar os elementos. As alas se combinam, conversam cores e modelos, uma apresentação menor poderá variar as combinações, com roupas que podem ser usadas em vários corpos”, confirma Luana.

Conheça cada um dos figurinos utilizados nas alas do Bloco Cores de Aidê nos desfiles do Carnaval 2024 (em PDF):

Regentes: Conexão entre os mundos
Porta-Estandarte
Porta-Estandarte
Iansã / Oyá
Abertura de Caminhos ( Exu)
Malandra
Pomba Gira Cigana
Ala das Pernaltas – Malandras das Ruas
Timbal – Capoeira e Mandinga
Xequerê – Elementos como portais de conexão entre os mundos (cachaça, marafa, rosas, charuto, lenços)
Contra e Fundo – Ciganas
Repique e Caixa – Quilombos
Repique e Caixa – Samba e Malandragem
Marcação e Fundo: Atabaques, agogôs, pandeiros (Os instrumentos mágicos que são o caminho da malandragem)
Marcação –Ruas, Morros e Encruzilhadas

Mayra Cajueiro Warren | Jornalista | Dançarina do Bloco Cores de Aidê

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